Por José Venâncio Alves
(Funcionário da empresa entre 23/02/1970 a 01/04/1993)

Milton Guadalupe Lopes
(Funcionário da empresa entre 01/03/1979 a 18/08/1999)

Raimundo Gerônimo Pinheiro
(Funcionário da empresa entre 01/11/1972 a 31/03/1993)


A Nuclemon foi a empresa que começou a desenvolver a tecnologia nuclear brasileira, era uma empresa de economia mista e sofreu com problemas de contaminação. Tais problemas começaram a ser descobertos em 1987, após a morte de um funcionário, vítima da contaminação e posteriormente, em meados de 1989, através de exames feitos pela Fundacentro e Centro de Referência do Trabalhador de Santo Amaro. A partir desses exames a fiscalização se tornou mais rigorosa, obrigando a tomada de medidas e providências para maior controle.

A entrar na Nuclemon, os funcionários eram conquistados através de diversos benefícios como gás (um botijão por mês), leite em pó (quatro latas de leite em pó por mês para cada filho menor de 10 anos) e só depois iam ver que tais benefícios duraram até 1973).

A empresa não oferecia as mínimas condições para o trabalho, como por exemplo, equipamento que facilitaram o mesmo tudo era realizado de maneira braçal, não havendo empilhadeiras para carga das carretas que chegavam para trazer ou buscar materiais.

Havia ainda, devido a essa ausência de equipamentos, a necessidade de que o trabalhador, mesmo já tendo concluído seu horário de expediente, fizesse hora-extra para ajudar a carregar ou descarregar as carretas. Essas horas-extras eram registradas de maneira informa, não sendo registradas no cartão de ponto e sim em um papel escrito “vale de uma hora-extra”, só depois de vindas do sindicato é que se passou a marcar no cartão de ponto.

Ainda em relação às horas-extras, estas também eram requisitadas quando um operador ou ajudante entrava em férias, pois cada máquina funcionava com três operadores que se revezavam em turnos de 8h, então, na ausência de um, os outros precisavam fazer turnos de 12h para que mantivessem o funcionamento de 24h.

Só depois de muitos anos, com a entrada do sindicato na empresa, começaram a aparecer alguns benefícios como vale-refeição, mas mesmo com essas conquistas as condições ainda continuaram precárias.

Além dessa ausência de equipamentos que facilitavam o trabalho, também havia a ausência equipamentos que garantia a segurança do trabalhador. Manuseavam máquinas sem nenhuma segurança, não havia máscaras adequadas, não havia protetores de ouvido, já que as máquinas eram extremamente barulhentas, não havia programa de prevenção à acidentes ou à doenças relativas ao trabalho, além de que os trabalhadores não tinham acesso ao resultados dos exames períodicos, só a empresa tinha acesso a tais resultados.

Em alguns setores existiam fornos com temperaturas extremamente altas onde o serviço também era feito de maneira braçal. O trabalhador era obrigado a arrastar as brasas com uma enxada de ferro com um peso superior a 20 quilos.

Ainda os trabalhadores ficavam expostos a produtos químicos e radiativos sem a menor conscientização do risco que estavam correndo. No setor conhecido como Amassador, ocorria a mistura do ácido sulfúrico com o pó de pedra de abrigonita para que ocorresse a obtenção do fosfato de lítio, do bicarbonato de lítio, sulfato de lítio, aluminato de lítio, cloreto de lítio e hidróxido de lítio. Nesse setor os trabalhadores só passavam por ele correndo devido à fumaça resultante de reação dos produtos químicos, essa fumaça, altamente tóxica, fazia com que por ali passasse não conseguisse respirar.

Na seção TFM, que trabalhava com vários tipos de areia (monazita, zignita, rutilho, amenita, entre outras), onde só era possível trabalhar com areia seca, mesmo que ela tivesse chegado mplhada ela passaria por um forno no qual seria eliminada a umidade, e por esse motivo ocorria uma excessiva liberação de poeira o que ocasionava a silicose. Essas areias precisavam passar por outro tipos de maquinário, separador magnético para sua purificação para depois ser moída no moinho com pedra aço e que as transformava em um pó tão fino que subia facilmente impregnando o local.

Só depois de morte do funcionário José Benedito Bonifácio, que morreu devido à silicose, é que os trabalhadores começaram a descobrir que a doença era mais grave do que se imaginava.

No caso da monzita, o pó era pesado e encaminhado para o setor de TQM, setor que após pressões da fiscalização, em 1989-1990, ficou com a área controlada, em que para sair devia-se tomar banho e trocar de roupa.

Nesse setor o pó da monazita era passado por um maquinário de nome altoclave, onde era descarregado numa tinta (tanque), depois passava por um filtro-prensa onde era extraído o fosfato e a amassa, chamados de torta um. A torta um era encaminhada para a extração do cloreto terras-raras, resultando na torta dois, que era altamente radioativa.

O cloreto era então encaminhado para um outro processo de purificação em que era filtrado num filtro-prensa e o resultado era o mesotório, ainda mais radioativo que a torta dois.

Como resultado disso pudemos observar vários funcionários com gravíssimos problemas de saúde, como a silicose, outros problemas respiratórios, problemas de coluna, problemas auditivos, câncer, reumatismo.

Saindo da empresa com esses problemas se saúde, alguns ainda conseguiram se aposentar, mas seus salários não conseguem comprar os remédios, outros estão aposentando por invalidez com condições sub-humanas, outros não conseguiram se aposentar e estão sofrendo por não conseguir arrumar outro serviço devido às condições de saúde, além daquelas que morreram precocemente por causa também das doenças adquiridas no trabalho e por causa da ausência de um aparato que auxilie o trabalhador doente. A empresa, atual INB, mesmo com esses relatos de trabalhadores doentes, se nega a se responsabilizar por tais trabalhadores, que agora se veem em situação difícil de abandono e desamparo.

A empresa começou o processo de demissão em 1991. Com essa sitação os delegados a representação dos trabalhadores, Francisco Guedes e José Pereira, entravam em contado com o sindicato, representado por Claudemir e Isabel, para que tivessem um apoio na negociação das demissões junto à empresa. EM 1991 foram demitidos cerca de 150 funcionários, entre os quais alguns aderiram ao processo de demissão voluntária.

Em 1992 começou o processo de fechamento da empresa e mais de 130 pessoas, aproximadamente, entraram numa nova lista de demissão. Os então delegados da representação dos funcionários, José Venâncio e Francisco Guedes, avisados das novas demissões, interviram junto à empresa, com apoio do sindicato, para que pessoas portadoras de doenças relacionadas ao trabalho não entrassem nessa leva de demitidos. Nessa época, o sindicato ainda era representado por Claudemir e Isabel, e por vezes também pelo Marcão.

Após diversas reuniões entre os representantes dos funcionários, do sindicato e da empresa ficou acordado que todos os funcionários que iriam ser demitidos realizassem exames de corpo inteiro para detectar algum problema de saúde. Alguns desses exames foram realizados no IPEM em São Paulo e outros no órgão correspondente na cidade do Rio de Janeiro. Os funcionários nos quais foi detectado algum problema de saúde retornaram à atividade na empresa.

Em março de 1993, os representantes dos funcionários foram avisados de que todos os trabalhadores seriam demitidos, inclusive os que tinha problemas de saúde, com excessão aqueles que aceitassem a transferência par o filial no Estado do Rio de Janeiro com o contrato de 1 ano. No dia 31 de março do mesmo ano foi realizado o processo final em si, com a assinatura do aviso prévio ou do contrato de transferência, não havendo mais espaço então para negociação. Nesta data os representantes dos do sindicato da época, com excessão da Isabel que já havia se desligado, foram avisados do fato que ocorria na empresa, mas nenhum compareceu para dar suporte aos funcionários.

O processo de fechamento de Nucelmon-SP foi assim concretizado resultando na atual situação dos seus funcionários.

Imagens ANTPEN

Para Site da Antpen

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Memorial das vítimas

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Especial Energia Nuclear

Reportagem produzida em 24/04/2006

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A Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN) é uma associação formada por trabalhadores, ex-funcionários e parentes afetados pela contaminação por radiação. Com o objetivo de propor ações judiciais em favor de seus associados, pela ratificação da convenção 115 juntamente com artigo 12 e conscientizar à população em geral, trabalhadores e a opinião pública sobre os riscos da radiação e seus efeitos nocivos.

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