LIXO ATÔMICO POLUI ÁGUA DO SUBSOLO DE INTERLAGOS

Rejeito radioativos foram depositados em terreno ao lado do qual estão sendo erguidos prédios de apartamentos, condomínio residencial e templo religioso. Um terreno de 54 mil metros quadrados na esquina das avenidas Interlagos e Miguel Yunes, na Zona Sul, recebeu, durante vários anos, restos do beneficiamento de areia monazítica feito numa usina situada no Brooklin, também na Zona Sul, e desativada em 1992.

O local tem um galpão com 1150 toneladas de rejeito radioativos acondicionados em tambores e contêineres, sendo 590 toneladas de Torta-II, um concentrado de urânio e tório. A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) admite que o lixo atómico contamina um bolsão de água sob o galpão. A estatal aguarda autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM) para iniciar a remediação, ou seja, retirar o material.


Perto do galpão há um brejo e uma calha no chão que direciona o excesso de água para um carrego ao lado. Ele desagua 500 metros depois no rio pinheiros. Walter Mortágua, da INB, minimiza o problema. "O bolsão de água contaminada é de baixa concentração e está contido em baixo do galpão", diz.


O vereador Gilberto Natalini, presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara Municipal, está preocupado. "A área como um todo registra radiação significante, quando chove muito, a água chega a bater na parede do galpão".


Os trabalhos para descontaminar o terreno só começaram há menos de um ano.


A INB informa que cerca de 80 metros cúbicos de solo contaminado terão de ser removidos.


Para José Venâncio Alves, líder dos trabalhadores da antiga usina, a terra depositada na parte superior do terreno veio da usina que beneficiava a areia monazítica no Brooklin. Funcionários com máscaras de proteção removiam o solo do terreno na semana passada. Hoje, a área de 20 mil metros quadrados no Brooklin, na esquina da Avenida Santo Amaro com a Rua Princesa Isabel, abriga vários prédios residenciais. A CNEM garante que tudo foi descontaminado. Zé suspeita. "acho que tem radiação lá".


Em Interlagos, placas alertam para o perigo de radiação no terreno. Na área ao lado está sendo construído o templo religioso do padre Marcelo Rossi, para 100 mil pessoas. Em outra área vizinha, vários prédios de apartamentos estão quase prontos. Em frente surge um novo condomínio residencial. Natalini quer acabar com o lixo atómico. "Não pode ficar em São Paulo".


Dos 43 funcionários mortos da usina, 14 tiveram câncer. José Venâncio Alves começou a trabalhar na usina que beneficiava areia monazita no Brooklin no inicio dos anos 1970. "Eles só arregimentavam pessoas sem estudo. Nós não tinhamos ideia de que manipulávamos material radioativo".


Zé relata que os funcionários só passaram a se preocupar com a segurança após o acidente radioativo com o Césio-137, em Goiânia, em 1987. "Antes, lavávamos nossas roupas de trabalho em casa, junto com as das nossas familias, com risco de contaminar os próprios filhos".


Dos 43 funcionários da usina que morreram desde 1990, 14 tiveram câncer. "A prevalência de câncer é alta nesse grupo", afirma a Dra. Maria Vera Cruz de Oliveira, médica do trabalho e pneumologista. Ela acompanha há 20 anos o drama dos homens que lidaram com areia monazítica no Brooklin. "Eles moíam a areia e o pó ficava depositado nos pulmões", explica a Dra. Vera. "Outros tiveram diminuição dos glóbulos brancos no sangue, devido á exposição á radiação". Em 1991, uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo mediu a radiação na usina. A fábrica fechou no ano seguinte. "As condições de trabalho eram muito ruins", lembra a médica, segundo ela, cinco ex-funcionários estão com câncer de próstata no momento, além dos que perdeu a vida neste ano, vitima da doença. "Fica a pergunta", diz ela. "Sera que esses casos são consequência da exposição á radiação?".

lixo radioativo da Nuclemon depositado em Interlagos

Fonte: Reportagem de Ivo Patarra - JORNAL DIÁRIO DE SÃO PAULO - dia 01.05.11

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Reportagem produzida em 24/04/2006

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