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O lançamento de “Cobaias da radiação” da jornalista Tania Malheiros ocorreu durante audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo, no dia 24 de março, para debater os impactos das indústrias nucleares no Brasil (INB) e os passivos socioambientais da destinação dos rejeitos da antiga unidade Nuclemon (USIN/INB) em Santo Amaro, zona sul da Capital.

A abertura da audiência, focada nas revelações feitas por Tania Malheiros em seu livro, contou com a fala do vereador Hélio Rodrigues (PT), presidente do Sindicato dos Químicos de São Paulo, instituição que apoia o trabalho histórico sobre os impactos da indústria nuclear no Brasil.

Além da presença de autoridades, militantes e sindicalistas no lançamento de “Cobaia da radiação”, também integrou o lançamento do livro de Tania Malheiros, Fernanda Giannasi, principal voz da fiscalização do trabalho no País e que acompanhou por 30 anos e reforçou a luta contra os abusos dentro das fábricas de indústrias químicas no Brasil.

Evento de lançamento fotos feita por Jordana Mercado

Mesa de debate do lançamento do livro “Cobaias da radiação”, de Tania Malheiros - Foto: Jordana Mercado



Também tiveram papel fundamental na mesa do debate, a professora de Ciências Sociais, da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Marijane Lisboa, a advogada trabalhista Érica Coutinho, especialistas em Políticas Públicas, o prefeito de Caldas, Ailton Pereira Goulart (PT), o vereador de Caldas pelo PT, Daniel Tygel, a médica Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Santo Amaro, e o presidente José Venâncio Alves, da Antepen (Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção Nacional de Energia Nuclear-Brasil). 

Antes da sua exposição sobre o trabalho de pesquisa que fez para escrever o livro, Tania Malheiros pediu um minuto de silêncio em nome das vítimas das indústrias nucleares no Brasil. “Quantos já morreram deixando para trás as suas histórias de sofrimento e tristezas porque foram abandonados pelo Poder Público?”, destacou a jornalista.

Tania Malheiros lembrou que, de março de 2019 até os dias atuais, centenas de vítimas das indústrias nucleares morreram e foram esquecidas. “Quando estive aqui em São Paulo entrevistando os poucos sobreviventes até hoje muitos já morreram e onde estava e onde está este Poder Público para amparar esses trabalhadores com a dignidade que eles merecem, amparar as vítimas desse sistema perverso?”, questionou Tania, em sua fala.

Evento de lançamento fotos feita por Jordana Mercado 2

José Venâncio Alves, presidente da Antpen - Foto: Jordana Mercado

 

Tania Malheiros é jornalista e escreve sobre energia nuclear desde 1986. Seus primeiros furos nessa área foram na Folha de São Paulo. Depois, passou pelo jornal O Estado de São Paulo, O Globo e no Jornal do Brasil, sempre cobrindo o mesmo tema. A jornalista ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Científica, Tecnológica e Ecológica. Atualmente escreve para o seu blog, principalmente para a área nuclear.

“Em quais cemitérios estão enterrados os invisíveis contaminados pela radiação? Alguém sabe, suas dores, suas histórias? Lamentavelmente esses trabalhadores foram esquecidos. E foi para dar voz a essas centenas de brasileiros, para tornar pública essa história vergonhosa de exploração humana que nasceu Cobaias da radiação. Este livro nasceu da minha indignação”, completou Tania Malheiros, agradecendo a participação dos jornalistas André Trigueiro e Cristina Serra nos prefácios do livro.

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Audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo, no dia 24 de março, para debater os impactos das indústrias nucleares no Brasil (INB) e os passivos socioambientais da destinação dos rejeitos da antiga unidade Nuclemon - Foto: Jordana Mercado



Onde comprar “Cobaias da radiação”
Os interessados em adquirir o livro da jornalista Tania Malheiros sobre a história do crime corporativo promovido pela ex-Nuclemon (atual INB), intitulado “Cobaias da Radiação”, devem efetuar o pagamento pela Chave-PIX (21) 996015849, no valor de 50 reais + postagem pelos Correios. É preciso informar o nome para autógrafo e enviar uma cópia do comprovante para o WhatsApp da autora: (21) 996015849.

 

Veja as fotos do evento:

https://drive.google.com/drive/folders/1-bVtZ4fdsdDjrNA90aX1Tk1KafzuCkGA

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Ex-funcionários da Nuclemon, uma indústria nuclear que funcionava na Zona Sul de São Paulo, estão pedindo na Justiça uma indenização por problemas de saúde. A empresa já fechou há mais de 20 anos, mas eles alegam que ficaram doentes porque foram expostos à radiação.

Na terça-feira (5) aconteceu a primeira audiência do caso, e o Ministério Público decidiu entrar como parte do processo para também cobrar indenização da empresa.

A empresa era estatal e começou a operar nos anos de 1940, no Brooklin, Zona Sul da capital paulista. Entre outras atividades, processava um tipo de areia para a retirada de tório e urânio - dois elementos químicos radioativos. Só que como a Nuclemon surgiu antes mesmo da legislação que regula esse tipo de trabalho, acredita-se que ex-funcionários tenham sido expostos à radiação.

Por mais de 20 anos, Venâncio Alves foi um dos funcionários da Nuclemon. Em entrevista ao SP1, ele disse que não era orientado sobre o tipo de material que manuseava na empresa. "A gente demorou para perceber porque a gente não sabia", afirmou. "Depois eles começaram a explicar que tal setor era radioativo, tinha um pouquinho de radiação, mas não fazia mal nenhum, que não era para ter medo."

De acordo com Venâncio, não havia equipamento de segurança. Eles usavam um macacão como uniforme. A situação começou a mudar com o acidente com o Césio 137, em Goiânia, em 1987. As notícias sobre os efeitos da radiação se espalharam e os funcionários ligaram o alerta.

"Depois que eles começaram a medir com dosímetro e tal e a gente viu que tinha algo errado. Tinha um representante que passava medindo a radiação e aí nós começamos a perceber, mas depois de muitos anos", diz o ex-funcionário Eliseu Faustino Alves.

"Eu me sinto enganado. a gente foi enganado por uma monte de gente. pessoal que sabia do que se tratava aquilo ali", diz Venâncio.

A Indústria Nuclear do Brasil (INB), responsável pela Nuclemon, disse que a empresa oferecia proteção aos operários mas que, naquela época, muitas das tecnologias ainda estavam sendo desenvolvidas. A empresa falou que, após o fechamento, a Nuclemon encaminhou os trabalhadores para monitoramento em institutos especializados, e que vai prestar os esclarecimentos necessários à Justiça.

 

Funcionários tiveram câncer

Em 1991, Ministério Público, médicos e especialistas fizeram uma vistoria na empresa e constataram inúmeras irregularidades. Parte dos funcionários foi submetida a exames detalhados, e a doutora Vera foi quem cuidou disso na época. 

“Na época nós fizemos uma avaliação completa de todos os trabalhadores que vieram até aqui que foram 160 trabalhadores e foi feito hemograma, exames físicos completos, vários deles tinham leucopenia e também tivemos acessos a exames feitos na época de medidas de urânio e tório na urina e nas fezes e medidas de corpo inteiro de radioatividade e vários trabalhadores tinham exames alterados inclusive trabalhadores do setor administrativo”, afirma a pneumologista e médica do trabalho Maria Vera Cruz de Oliveira.

De acordo com a médica. a radiação não fica restrita ao ambiente.

“Ela ultrapassa, claro, as paredes. Muitas vezes ela está ali no ambiente. ela sai pelas janelas, então a população do entorno tinha exposição também e essa provavelmente é uma das razões para o fechamento da empresa no prazo de 3 anos”, afirma a médica.

 

Resíduo radioativo

O processo de fechamento foi delicado e monitorado de perto pelas autoridades. Em 1993, o prédio onde funcionava a Nuclemon foi demolido e, após várias análises, o local foi liberado para uso. Atualmente há um condomínio residencial no endereço. Já os resíduos da atividade da empresa foram transferidos para um terreno em Interlagos.

A região bastante movimentada com condomínios, indústrias e empresas. Dentro de um galpão está o material que veio da Nuclemon. É um resíduo radioativo.

A área é cercada e há alertas sobre o risco de radiação. Mas, segundo especialistas, se o material estiver armazenado da maneira correta, não oferece perigo a quem vive lá.

"Moro há bastante tempo aqui e me preocupa porque não sei se estão fazendo algum tratamento, se tem alguma coisa acontecendo", afirma o morador Vagner Cardoso.

O físico especialista na gestão de rejeitos radioativos Roberto Vicente garante que não há motivo pra preocupação.

“Não há qualquer risco para quem viva nas imediações, vizinho àquele terreno, não há risco por causa da radiação. Os materiais estão contidos, embaladas, e os níveis de radiação fora do deposito estão tão baixos quanto os que a gente observa no ambiente por causa da radioatividade natural”, afirma.

Além dos resíduos, a principal herança da Nuclemon está na vida dos ex-funcionários. Alguns ainda fazem acompanhamento médico, com a mesma Doutora Vera.

“Agora no momento nós temos em torno de 100 trabalhadores que continuam em acompanhamento ativo, que ainda vem nas consultas, mas em particular nos temos um grupo de 65 trabalhadores que periodicamente estão aqui e o que chama a atenção é que um terço deles desenvolveu câncer. câncer de várias localizações. Felizmente muitos deles já se trataram, mas infelizmente alguns vieram a morrer por causa desses tumores que eles apresentaram”, diz ela.

Os ex-funcionários entraram na Justiça contra a empresa INB, responsável pela Nuclemon. Eles pedem indenização por danos morais e assistência médica vitalícia.

“Espero que um dia a gente consiga alguma coisa, o que muitos coitados não esperavam e já foi tudo. e nós estamos na luta para ver o que vai acontecer conosco”, diz o ex-funcionário José Pereira Gomes.

 

Link da matéria: https://g1.globo.com/google/amp/sp/sao-paulo/noticia/2019/11/06/ex-funcionarios-de-industria-nuclear-de-sp-pedem-indenizacao-na-justica-por-problemas-de-saude.ghtml#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=16793660004008&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com

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A poeira que podemos visualizar nessas fotos trata-se de poeira radioativa. Estas fotos foram tiradas no setor de produção da empresa INB (antiga Nuclemon) no ano de 1993.

 

A INB-Nuclemon sabia que contaminava seus funcionários

É de conhecimento geral os males causados pela contaminação por radiação, e diante da poeira exibida nas fotografias anexas a esse artigo, resta uma pergunta: será que alguém nos dias atuais aceitaria trabalhar nessa empresa (Nuclemon) nestas condições? Acredito que hoje quase ninguém aceitaria.

Quase, pois, mesmo com tanto acesso à informação, esse assunto não é tratado com o respeito que merece. O descaso das autoridades competentes de todos os setores em relação a este assunto, ano após ano, aliado à falta de comprometimento e de interesse em alavancar uma proteção eficiente para os trabalhadores expostos à radiação, traz receio de que alguém ainda possa está sujeito a este tipo de trabalho.

Principalmente com o alto índice de desemprego e a pouca abordagem sobre o assunto em vários pontos do país. Infelizmente é possível crê que haja ainda muitos trabalhadores sujeitos à exposição à radiação sem devida proteção e seguridade que merecem.

Pessoas que conhecem sobre contaminação radioativa e que rejeitam uma situação de trabalho de exposição à materiais perigosos para saúde humana exerce seus direitos: o de conhecimento e o de escolha.

Já para um grupo de ex-funcionários da INB-Nuclemon, esses direito foram usurpados. No ato da contratação, eles não foram informados sobre a radiação emitida durante o manuseio de materiais radioativos e quanto isso podia afetar a saúde deles. Não tiveram o direito ao conhecimento e não exerceram seu poder de escolha.

Após o estrago feito em Goiânia com o acidente Césio 137, em 1987, onde a contaminação de toda uma família pelo agente radiativo encontrado em um ferro velho, que repercutiu no jornais de todo o mundo, fez com que a "ficha desses funcionários da INB-Nuclemom caísse". Porém, já era tarde! Muitos destes funcionários já tinham sido expostos à radiação ao longo dos anos.

Após a repercussão do Césio 137, iniciou-se vários movimentos em defesa dos trabalhadores e não demorou muito para a então INB-Nuclemon-Usan decidir fechar as portas, mas precisamente em 1993.

O fechamento da empresa implicou na demissão dos funcionários, inclusive daqueles diagnosticados com silicose, mesmo após terem sido submetidos à exames. É importante salientar que os exames só passaram a ser realizados após o acidente de Goiânia.

O episódio levou a empresa rapidamente demitir todos os funcionários. E mesmo assim manteve o discurso de que o produto era inofensivo, de que não traria mal aos ex-funcionários e que eles poderiam seguir suas vidas normalmente.

Quando demitidos, a empresa não ofereceu assistência médica, mesmo os trabalhadores estando protegidos pelo Decreto da Convenção 115, artigo 12, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual o Brasil é signatário, e que deve amparar os trabalhadores exposto à radiação. Mas o beneficio não chegou.

Além dos funcionários que já haviam sido demitidos doentes antes da empresa fechar, outros inúmeros adoeceram rapidamente e morreram na mesma velocidade, deixando suas famílias desamparadas.

Os que se mantiveram vivos, poucos anos mais tarde, apresentaram diversos tipos câncer e outros tipos de doenças.

Até hoje esses ex-funcionários lutam na justiça em busca de assistência médica vitalícia e por reparação financeira. Os que sobreviveram estão doentes e o pouco que ganham de aposentadoria gastam com medicamentos. A maioria desses trabalhadores não tiveram o direito de aproveitar a velhice com dignidade, pois até isso a radiação, a INB-Nuclemon, lhes tirou.

Sandra Alves

Filha de José Venâncio Alves, uma da vítimas contaminadas pela INB-Nuclemon

 

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Uns protegidos e outros largados a própria sorte. A CNEn ajudou a descontaminar e verificar o grau de contaminação em Goiânia, no caso 137. Como não podia saber do mal causado aos trabalhadores INB -Nuclemon?

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Guilherme Goulart e Natália Lambert

Trinta anos após o acidente radioativo em Goiânia, resta a dúvida sobre a eficiência brasileira em caso de tragédia semelhante. A partir do trabalho específico de descontaminação e remoção dos rejeitos do césio, a partir de 1987, o país investiu em pesquisas, estudos genéticos, planos emergenciais de segurança e ampliação do potencial nuclear, com a usina de Angra 3.

Mas, assim como as instalações em construção em Angra do Reis, no Rio de Janeiro (leia abaixo), o setor encontra-se cercado de polêmicas e desconfianças. As últimas três décadas resultaram, por exemplo, na extinção do Programa Nacional de Atividades Nucleares, que deu lugar à Política Nuclear.

A responsabilidade sobre a iniciativa é da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. A verba, no entanto, é limitada. Cerca de 45% do orçamento total, de R$ 255.146.758, está contingenciado pelo governo federal, ou seja, a comissão conta com R$ 140.186.897 para fiscalizar 9,6 mil fontes radioativas espalhadas pelo Brasil.

Com esta verba, a CNEN controla, ainda, as aquisições de fontes radioativas — em 2016, foram avaliadas 2.426 solicitações de importação e 167 de compra de fornecedores nacionais. O dinheiro também garante o funcionamento de 14 unidades da Cnen, entre a sede do Rio de Janeiro, institutos de pesquisa, laboratórios, agências distritais e escritórios regionais, distribuídos em nove unidades da Federação.

Uma delas — o Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO) — fica em Abadia de Goiás, ao lado de Goiânia. Foi erguida justamente para abrigar as 13 mil toneladas de resíduos provenientes da contaminação pelo césio 137.

Aprendizado

Desde o acidente nuclear goiano, quando dois catadores de sucata retiraram do prédio do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) um aparelho de raio X abandonado e deram início à tragédia que contaminou 1,4 mil pessoas, a tecnologia melhorou. “Aquelas bombas de cobalto e cobre foram substituídas por aceleradores.

Àquela época, existia o elemento radioativo emitindo constantemente a radiação. Agora, há um gerador de raio X confiável, que para de emitir quando desligado. O tratamento ficou mais eficaz. E foi o acidente com o césio que acelerou essa mudança”, explica o físico da Universidade de Brasília, em Ceilândia, Araken dos Santos Werneck Rodrigues.

Para Diego Nolasco, doutor em biofísica molecular e professor de física da Universidade Católica de Brasília, o aprendizado ficou em relação à educação. “A grande lição que devemos tirar dessa tragédia faz referência à necessidade de se educar cientificamente o nosso povo.

Muitos acreditam que ser educado cientificamente é sinônimo de ser cientista, e isso é um engano. Ser educado cientificamente te confere a competência de avaliar o risco, por exemplo”, afirma. Ele também chama a atenção para o aumento da fiscalização. “A legislação evoluiu com a determinação de que o recolhimento e o armazenamento desses materiais sejam de responsabilidade exclusiva da Cnen, e isso gera responsabilidade legal”, conclui.

Além disso, o acidente nuclear de Goiânia permitiu avanços em pesquisas genéticas. O biomédico geneticista Aparecido da Cruz esteve à frente da implementação do Laboratório de Genética do governo de Goiás, responsável pelo monitoramento do efeito biológico da exposição humana à radiação do césio 137.

“Um dos primeiros testes de biomonitoramento das populações expostas à radiação ionizante foi o teste de micronúcleo, que relatou um aumento na frequência de micronúcleos das pessoas envolvidas direta ou indiretamente no acidente”, detalha o também professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Os 30 anos de experiência com estudos sobre o acidente goiano levaram o especialista a algumas conclusões. “Os dados de mutação germinativas em cópias do genoma são promissores. Estudos de monitoramento são importantes para entender como o genoma humano se comporta frente a uma exposição em baixas doses ao césio 137.”

Quanto a relação entre o serviço de remoção de rejeitos e as doenças crônicas desenvolvidas pelos responsáveis pelo serviço, Aparecido destaca: “Apesar de o risco relativo ter aumentado entre os radioexpostos, os agravos não aumentaram. Portanto, não se pode estabelecer a causa como sendo a exposição à radiação”.

A atuação do Ministério Público de Goiás (MPGO), porém, conquistou o reconhecimento do Judiciário nesses casos. Qualquer trabalhador da descontaminação dos rejeitos com doença crônica pode entrar com pedido de indenização, como previsto em lei. “São pessoas que se sacrificaram em nome da comunidade. A coisa mais importante hoje é o futuro. E se acontecesse de novo? Estaríamos preparados?” questiona o promotor Marcus Antônio Ferreira Alves, que atuou diretamente na questão do césio entre 2000 e 2002.

Retomada de Angra 3

A desinformação e o despreparo que marcaram a história da capital goiana trazem à tona a preocupação se o país estaria preparado para lidar com uma tragédia em proporções maiores, como a explosão de um reator em uma usina nuclear.

Um dos projetos mais polêmicos é o de Angra 3, o terceiro da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, no Rio de Janeiro. “Em Goiânia, eram 19g de césio. Se uma usina explode, serão toneladas de césio, plutônio e outros. É uma insanidade. Infelizmente, as lições não são aprendidas no Brasil”, comenta Chico Whitaker, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

Irmã gêmea de Angra 2, a usina começou a ser construída em 1984, baseada em um projeto de 1970. Dois anos depois, dificuldades políticas e econômicas — além do trágico acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 — fizeram Angra 3 voltar para a gaveta.

Com a chegada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2009, a obra foi retomada. “O principal problema é que eles continuaram com o mesmo projeto da década de 1970, sem levar em consideração a possibilidade de fusão do núcleo do reator, como no acidente ocorrido em 1979, em Three Mile Island (EUA)”, critica Sidney Luiz Rabello, engenheiro no setor de segurança de usinas nucleares da Cnen.

Em 2010, Rabello participou da equipe de engenheiros que analisaram a obra e identificou a necessidade de atualizações, como a construção de um tanque de retenção no caso de uma fusão do núcleo, o que geraria uma lava radioativa incontrolável. “Apresentamos o relatório, e eles não mudaram nada nos aspectos de segurança, não no que interessa à população e ao meio ambiente. Os projetos atuais no mundo levam em consideração esse acidente, menos aqui. É incompreensível. Felizmente, ainda há tempo de consertar esse perigo”, garante.

A CNEN alerta que Rabello não fala em nome da instituição. No fim de 2015, as obras da usina pararam novamente. Desta vez, por causa de descobertas de corrupção e lavagem de dinheiro no processo de construção. Cinco ex-executivos da Eletronuclear e dois sócios da VW Refrigeração acabaram detidos preventivamente na Operação Pripyat, desdobramento da Operação Lava-Jato.

Até o momento, foram executados cerca de 67% das obras civis da usina. A expectativa é que ela comece a operar na próxima década. O custo soma R$ 7 bilhões, e a previsão é de que se gaste mais R$ 17 bilhões. O governo busca investidores internacionais. Em viagem oficial à China, nesta semana, o presidente Michel Temer avançou nas negociações com a China National Nuclear Corporation.

Defesa e Acusação






Ao longo da série de reportagens Césio 137: 30 anos de um inimigo invisível, o Correio mencionou os réus da tragédia nuclear. No caso das pessoas jurídicas, garantiu-se assistência, trabalho de monitoramento e realização de exames às vítimas diretas e indiretas, reconhecidamente atingidas até a 3ª geração. Elas recorreram da decisão e, atualmente, a questão está pendente de análise pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O Ministério Público Federal em Goiás (MPF/GO) denunciou os médicos radioterapeutas Carlos de Figueiredo Bezerril e Criseide Castro Dourado; os médicos Orlando Alves Teixeira e Amaurillo Monteiro de Oliveira; e o físico nuclear Flamarion Barbosa Goulart por homicídio e lesão corporal culposos (sem intenção).

Eles foram condenados e cumpriram penas de oito meses em regime aberto, além de um ano de prestação de serviços à comunidade. Em 1998, um decreto presidencial extinguiu a pena. Bezerril, Criseide, Amaurillo e Goulart trabalham voluntariamente no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, primeira e maior unidade da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG).

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do hospital, que se propôs a fazer o contato com os quatro profissionais. Até ontem, porém, não houve retorno. O Correio também não conseguiu localizar Alves Teixeira.

Em setembro de 2007, na série de reportagens sobre os 20 anos do acidente, Flamarion Goulart concedeu uma longa entrevista ao jornal. Ele se defendeu, alegando que não se sentia responsável pelo acidente “de forma alguma”. “A responsabilidade toda é dos donos do IGR (Instituto Goiano de Radioterapia)”, argumentou, à época.

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Imagens ANTPEN

Para Site da Antpen

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Memorial das vítimas

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Especial Energia Nuclear

Reportagem produzida em 24/04/2006

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A Associação Nacional dos Trabalhadores da Produção de Energia Nuclear (ANTPEN) é uma associação formada por trabalhadores, ex-funcionários e parentes afetados pela contaminação por radiação. Com o objetivo de propor ações judiciais em favor de seus associados, pela ratificação da convenção 115 juntamente com artigo 12 e conscientizar à população em geral, trabalhadores e a opinião pública sobre os riscos da radiação e seus efeitos nocivos.

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