A INB-Nuclemon sabia que contaminava seus funcionários Destaque
A poeira que podemos visualizar nessas fotos trata-se de poeira radioativa. Estas fotos foram tiradas no setor de produção da empresa INB (antiga Nuclemon) no ano de 1993.
A INB-Nuclemon sabia que contaminava seus funcionários
É de conhecimento geral os males causados pela contaminação por radiação, e diante da poeira exibida nas fotografias anexas a esse artigo, resta uma pergunta: será que alguém nos dias atuais aceitaria trabalhar nessa empresa (Nuclemon) nestas condições? Acredito que hoje quase ninguém aceitaria.
Quase, pois, mesmo com tanto acesso à informação, esse assunto não é tratado com o respeito que merece. O descaso das autoridades competentes de todos os setores em relação a este assunto, ano após ano, aliado à falta de comprometimento e de interesse em alavancar uma proteção eficiente para os trabalhadores expostos à radiação, traz receio de que alguém ainda possa está sujeito a este tipo de trabalho.
Principalmente com o alto índice de desemprego e a pouca abordagem sobre o assunto em vários pontos do país. Infelizmente é possível crê que haja ainda muitos trabalhadores sujeitos à exposição à radiação sem devida proteção e seguridade que merecem.
Pessoas que conhecem sobre contaminação radioativa e que rejeitam uma situação de trabalho de exposição à materiais perigosos para saúde humana exerce seus direitos: o de conhecimento e o de escolha.
Já para um grupo de ex-funcionários da INB-Nuclemon, esses direito foram usurpados. No ato da contratação, eles não foram informados sobre a radiação emitida durante o manuseio de materiais radioativos e quanto isso podia afetar a saúde deles. Não tiveram o direito ao conhecimento e não exerceram seu poder de escolha.
Após o estrago feito em Goiânia com o acidente Césio 137, em 1987, onde a contaminação de toda uma família pelo agente radiativo encontrado em um ferro velho, que repercutiu no jornais de todo o mundo, fez com que a "ficha desses funcionários da INB-Nuclemom caísse". Porém, já era tarde! Muitos destes funcionários já tinham sido expostos à radiação ao longo dos anos.
Após a repercussão do Césio 137, iniciou-se vários movimentos em defesa dos trabalhadores e não demorou muito para a então INB-Nuclemon-Usan decidir fechar as portas, mas precisamente em 1993.
O fechamento da empresa implicou na demissão dos funcionários, inclusive daqueles diagnosticados com silicose, mesmo após terem sido submetidos à exames. É importante salientar que os exames só passaram a ser realizados após o acidente de Goiânia.
O episódio levou a empresa rapidamente demitir todos os funcionários. E mesmo assim manteve o discurso de que o produto era inofensivo, de que não traria mal aos ex-funcionários e que eles poderiam seguir suas vidas normalmente.
Quando demitidos, a empresa não ofereceu assistência médica, mesmo os trabalhadores estando protegidos pelo Decreto da Convenção 115, artigo 12, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual o Brasil é signatário, e que deve amparar os trabalhadores exposto à radiação. Mas o beneficio não chegou.
Além dos funcionários que já haviam sido demitidos doentes antes da empresa fechar, outros inúmeros adoeceram rapidamente e morreram na mesma velocidade, deixando suas famílias desamparadas.
Os que se mantiveram vivos, poucos anos mais tarde, apresentaram diversos tipos câncer e outros tipos de doenças.
Até hoje esses ex-funcionários lutam na justiça em busca de assistência médica vitalícia e por reparação financeira. Os que sobreviveram estão doentes e o pouco que ganham de aposentadoria gastam com medicamentos. A maioria desses trabalhadores não tiveram o direito de aproveitar a velhice com dignidade, pois até isso a radiação, a INB-Nuclemon, lhes tirou.
Sandra Alves
Filha de José Venâncio Alves, uma da vítimas contaminadas pela INB-Nuclemon
Uns protegidos e outros largados a própria sorte. A CNEn ajudou a descontaminar e verificar o grau de contaminação em Goiânia, no caso 137. Como não podia saber do mal causado aos trabalhadores INB -Nuclemon?