Escola, shopping e conjuntos habitacionais estão entre as mais de 1.500 áreas contaminadas em São Paulo Destaque

Há algumas décadas, quando não existia legislação que exigisse estudos de terreno antes da construção, muitos imóveis de São Paulo foram erguidos em locais impróprios para habitação, como antigos lixões, por exemplo. Os reflexos começaram a ser percebidos nos últimos anos, a exemplo do shopping Center Norte, que chegou a ser fechado em 2011. Uma escola também precisou ser desativada na Vila Nova Cachoeirinha. Em 2012, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) identificou 1.539 áreas contaminadas na capital paulista. A Câmara Municipal de São Paulo abriu mais uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar a situação dos terrenos. De acordo com os vereadores, a cidade tem mais de 90% do solo contaminado. Veja nas próximas fotos como estão atualmente algumas dessas áreas.

 Um dos casos que mais preocupa as autoridades, e que já foi alvo de apuração de comissões da Câmara Municipal, é o de um depósito de resíduos nucleares no cruzamento da rua Miguel Yunes com a avenida Interlagos, em Santo Amaro, zona sul.

O começo da rua Princesa Isabel, no Brooklin, hoje possui prédios residenciais, mas já abrigou a Usina de Santo Amaro, pertencente à antiga Nuclemon. No local, era feito o processo de beneficiamento da areia monazítica, trazida do litoral do Espírito Santo, e rica em urânio e tório, que são radioativos. Com o fim da usina, a terra contaminada foi levada para esse terreno. Atualmente, há cerca de 80 toneladas de material radioativo armazenadas em tonéis nesse galpão.

O depósito é questionado por ambientalistas. A CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) diz que não há risco de contaminação no local, pertencente à INB (Indústrias Nucleares do Brasil). O vereador Gilberto Natalini (PV) visitou as instalações em 2011, quando presidia a Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal. 

— São cerca de 80 toneladas de resíduo radioativo fechadas em um galpão de cimento, monitoradas, mas em uma situação de armazenamento muito pouco recomendável. Aquilo lá é uma meia-boca que foi feita, porque o Brasil não tem uma política nacional para resíduo radioativo. [...] No entorno do local está tudo construído e tudo urbanizado. Tem moradores ali. Quando dá enchente naquela região, a parede daquele depósito fica com água, às vezes, com 1 m de altura.

O campus da USP (Universidade de São Paulo) Leste, em Ermelino Matarazzo, permanece interditado pela Justiça desde janeiro deste ano. Vazamento de gás metano e a presença de outras substâncias no solo. As aulas tiveram que ser retomadas em outros locais. A USP informou que já foram instaladas bombas para a extração do gás. O campus só será reaberto após uma nova decisão judicial, sem data prevista. Enquanto isso, apenas a Guarda Universitária e poucos funcionários da manutenção permanecem no local.

Um levantamento feito em 2001 por um pesquisador indicou a possibilidade de existência de resíduos industriais, domésticos e entulhos que não foram removidos para a construção do shopping Center Norte, em 1984. Com o tempo, esse tipo de dejeto forma gás metano, que é inflamável. Durante as obras, foram instalados os chamados "respiros" de gases subterrâneos.

Quase dez anos depois, foram constatadas no shopping concentrações de metano acima do limite inferior de inflamabilidade. Diversas partes do centro de compras apresentavam risco, segundo a Cetesb. De acordo com o Center Norte, hoje, após a instalação de um sistema de extração de gases, não há mais risco.

Vizinhos do Center Norte, moradores do Conjunto Habitacional Cingapura, na avenida Zaki Narchi, passaram por momentos de apreensão em 2011. Medições da Cetesb confirmaram a presença de metano e o risco de explosão em alguns locais. Os técnicos também verificaram fissuras em paredes e rachaduras em pisos.

O problema diagnosticado era o mesmo do shopping: os prédios foram construídos sobre área onde havia sido depositado lixo no passado. Com o tempo, a matéria orgânica começou a produzir gás metano, que é inflamável. Ainda em 2011, foi implantado um sistema de extração de gases, que funciona ininterruptamente.

Um cenário muito parecido com o do Cingapura se repetiu no Conjunto Habitacional Heliópolis. Em março de 2009, a Cetesb constatou concentração de gás metano em diversos pontos, principalmente na gleba L da Cohab e dentro de duas escolas municipais. A companhia já havia alertado sobre o possível risco em 2001. A área foi considerada crítica pela Cetesb.

Hoje, a Secretaria Municipal de Habitação diz que foram contratadas duas empresas para monitorar os vapores na área e que foram construídas trincheiras para extração desses gases, com drenos enterrados. Dessa forma, o gás não chega aos apartamentos.

Localizada próxima de Heliópolis, a Vila Carioca abrigou, no passado, distribuidoras de combustíveis. Diversos terrenos na avenida Carioca e na rua Auriverde estão contaminados. Alguns locais adotaram medidas de remediação. O R7 procurou a Cetesb para saber a situação dessas áreas hoje, mas a companhia não havia respondido até a publicação desta reportagem.

Em 1999, uma investigação no subsolo da Cohab Nossa Senhora da Penha, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte, constatou presença de lixo. A área foi utilizada como aterro entre o final da década de 60 até o começo dos anos 80. Dois anos depois, a Cetesb atestou que havia risco à segurança das pessoas que moravam e passavam pelo local. Cerca de 600 famílias que moravam em alguns prédios tiveram que ser removidas de casa e duas escolas foram interditadas. A Secretaria Municipal de Habitação informa que abrirá licitação para demolir as construções e estuda fazer uma praça no espaço.

Veja matéria no Olhar Direto:

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Reportagem produzida em 24/04/2006

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