Lixo nuclear de extinta mina de urânio ocupa área de cem Maracanãs Destaque

Em Minas Gerais, toneladas de lixo radioativo preocupam ambientalistas, o Ministério Público e moradores de uma região no sul do estado. Há mais de duas décadas os rejeitos são mantidos no local.

A área é do tamanho de cem estádios do Maracanã. É o que restou da primeira mina de urânio que foi explorada no Brasil. Bacias de contenção de rejeitos, lama com resíduos radioativos na cava da mina, uma fábrica de beneficiamento de minério desativada, e mais: milhares de toneladas de misturas contaminantes que contêm urânio, tório, rádio. Hoje tudo que é feito lá é para monitorar e evitar mais problemas ambientais. Só para empresas terceirizadas foram pagos mais de R$ 700 mil nos primeiros sete meses de 2017. Dinheiro público.

Foram 13 anos de extração de urânio. Em 1995, a empresa responsável, que é pública, a INB - Indústrias Nucleares do Brasil - concluiu que a atividade não era mais viável economicamente. De lá para cá, se passaram 22 anos, toda a área com os rejeitos radioativos deveria ter sido recuperada, descontaminada. Não foi. São mais de 12.500 toneladas de resíduo. As regras para o armazenamento desse material perigoso são rígidas.

Ibama já tinha constatado parte da cobertura dos galpões feita apenas com lona, depois de uma ventania em 2015. Em nota, a INB informou que o problema foi corrigido definitivamente no começo deste ano. E essas imagens feitas agora mostram um pedaço descoberto no local onde o resíduo foi enterrado.

A fiscalização dessas áreas com radiação é responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear, a CNEN, que encontrou mais irregularidades. A comissão determinou, em 2016, uma melhor manutenção dos galpões e exigiu correções, porque detectou deterioração e queda de recipientes, corrosão de estruturas metálicas, danos à tubulação. Também estabeleceu a substituição de telhas.

Em 2017, a CNEN verificou que as exigências não foram cumpridas. Não foi a primeira vez, como explica o promotor de Caldas. “Historicamente, desde quando se encerraram as atividades, ela vem ignorando muitas dessas orientações desses órgãos. E isso pode custar um preço caro à sociedade local, ao meio ambiente, a todo o ecossistema”, disse o promotor José Eduardo de Souza Lima.Nas áreas de descarte do processo de extração, a água que escorre sai ácida. Para tratar, a empresa usa cal. Milhares de toneladas por ano. O Ministério Público estadual e também o federal entraram com ações contra a INB por não ter recuperado, até agora, a área degradada.

A primeira reação da empresa sobre isso foi em 2012. Apresentou um primeiro projeto de recuperação do local. Pelo último balanço de gestão da INB, a empresa não gastou um centavo no projeto de recuperação em 2016. A CNEN defende o fechamento definitivo da unidade. “É uma questão ambiental, mas também econômica. Você tem que investir recursos para poder fazer todos esses controles, então, tem um dispêndio orçamentário por parte da INB e, consequentemente, do governo federal em uma instalação que não está gerando receita”, explica Antônio Luiz Quinelato, coordenador do laboratório CNEN de Poços de Caldas.

Um relatório da própria INB calcula que recuperar a área vai custar cerca de US$ 500 milhões, mais de R$ 1,5 bilhão em 40 anos, e conclui que será necessário criar um modelo de financiamento, porque a INB não tem orçamento para isso.

O Ibama informou que o projeto de recuperação da área está em fase de estudo, mas não há prazo para conclusão A INB - Indústrias Nucleares do Brasil - afirma que faz inspeções periódicas nos galpões e nas bacias de contenção de rejeitos radioativos e descarta o risco de contaminação do solo e da água da região.

Veja a matéria no G1:

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Para Site da Antpen

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Especial Energia Nuclear

Reportagem produzida em 24/04/2006

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